Quase seis meses depois do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, moradores sofrem com a poeira e a água barrenta descendo pelos rios da região. Em Barra Longa, cidade vizinha, o número de atendimentos por problemas respiratórios no mês cresceu quase cinco vezes em relação aos anos anteriores.
A barragem que se rompeu no dia 5 de novembro do ano passado pertence à mineradora Samarco, cujas donas são a Vale e a anglo-australiana BHP. A tragédia causou 19 mortes. Um corpo ainda não foi localizado.
A lama gerada pelo rompimento devastou locais por onde passou, atravessou o Rio Doce, em Minas e no Espírito Santo, e chegou ao mar.
A lama tirada das ruas de Barra Longa virou uma montanha na entrada da cidade. Além disso, ainda há muita terra nas áreas mais afetadas.
Na policlínica, a coordenadora das equipes de saúde diz que sente os efeitos na pele. “Atribuo à poeira, porque ela arde muito no corpo da gente”, afirma Vera Lúcia Maciel. Outra moradora relata as dificuldades enfrentadas no dia a dia. “Desde quando aconteceu esse negócio com essa barragem, é gripe direto”, diz dona de casa Maria das Graças Vicente Morato.
“Duas, três vezes. Tem que lavar, varrer e lavar”, afirma ainda o caseiro Adilson de Paula. Na limpeza da casa, o pano fica bem empoeirado.
A cor do Rio do Carmo está escura. No local, a lama chega a ser acinzentada e brilha devido a resíduos de minério de ferro. Esta é a situação da lama que continua depositada nos leitos e às margens dos rios atingidos.
Para evitar que a lama continue vazando, a mineradora Samarco construiu diques. O rejeito que desce das barragens passa por um processo químico, as partículas sólidas são decantadas e ficam represadas em um lago.
O dique também funciona como uma espécie de filtro. O problema é que água que passa por ele continua correndo no leito do rio cheio de lama. Assim, segundo o Ministério Público, entra em contato com rejeitos e fica novamente poluída.
“Seis meses depois, infelizmente, os rejeitos continuam nos mesmos locais e qualquer medida tomada pela Samarco vai ser paliativa, porque encontrarão o rejeitos depositados nos rios e farão o carreamento, por óbvio, de todo esse material pro Rio Doce”, disse o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto.
O índice de turbidez, chamado Unidades Nefelométricas de Turbidez (NTU), que indica a presença de partículas em suspensão na água, deveria ser de no máximo 100. Mas, ficou até dez vezes maior que o limite aceitável. A Samarco diz que estuda uma solução.
“Esse estudo ficará pronto em julho de 2016, a partir daí se desenvolve quais são as melhores formas e os planos e os projetos. A pra que se retire esses material e que a água volte a ficar com turbidez menor que 100”, disse o diretor de Projetos e Ecoeficiência da Samarco, Auri de Souza Júnior. Segundo ele, a água só voltará às condições normais em três anos.
Quanto à poeira, a empresa diz que diminuiu o trânsito de caminhões em Barra Longa e contratou médicos para atender a população.
(Fonte: G1)