Moradores de um condomínio localizado no bairro Dom Pedro, na Zona Centro-Oeste de Manaus, foram surpreendidos pela nova coloração de um igarapé próximo ao local, na manhã desta segunda-feira (26). Residentes da área afirmaram que as águas do afluente começaram a ficar com cor avermelhada por volta das 10 horas. De acordo com o geólogo Fred Cruz, o composto diluído no igarapé tem características industriais. Ao ser acionado, o Batalhão Ambiental da Polícia Militar disse não ter estrutura para visitar o local.
No total, o afluente possui 15 km. O tingimento atingiu diversos pontos de outros igarapés situados na Zona Centro-Oeste da capital. De acordo com Cruz, esta é a primeira vez que o fenômeno ocorre na localidade. “Eu moro no condomínio há 15 anos e nunca vi algo como isso. Definitivamente isso não é um fenômeno natural, é antrópico mesmo”, contou. Segundo ele, a coloração pode ser resultado de restos de construção civil, diluentes ou solventes químicos.
Moradores destacaram que o igarapé, que atualmente é poluído, amanheceu com a coloração habitual. O porteiro de um condomínio nas proximidades, que não quis se identificar, contou que o afluente começou a mudar de cor às 10h. Conforme o geólogo, a falta de oxigênio na água já causou a morte de peixes no local. “Quando esse igarapé era natural e foi poluído com a vinda de condomínio para a área na década de 70, apenas algumas espécies mais resistentes, que rastejam por baixo do igarapé, sobreviveram. Agora eles não tem como se adaptar pois não vai restar mais oxigênio”, disse.
Ainda conforme Cruz, o nível de oxigênio do local não deve durar mais que seis horas. Ao todo, segundo o especialista, 48 jacarés, além de peixes e mamíferos habitantes do fragmento florestal no entorno podem ser afetados. “Além dos jacarés, aqui têm centenas de capivaras que dependem dessa água. Caso eles tomem esse componente inorgânico, certamente eles devem ser prejudicados, pois não há componente químico que faça bem a um animal. É um absurdo. Isso é caso de cadeia. É um crime gravíssimo contra o meio ambiente”, afirmou, ao descartar a possibilidade de o fenômeno ser natural.
O Batalhão Ambiental da Polícia Militar foi acionado por moradores do local. De acordo com os residentes, o órgão afirmou que não poderia enviar uma equipe ao local nesta segunda-feira (26), pois atendem a outra demanda no Rodovia Manoel Urbano, que liga Manaus a Manacapuru. Ao telefone, o tenente Abreu alegou que o órgão “não possui estrutura suficiente” para atender a ocorrência, visto que não possui carros para o envio de servidores a área.
O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) informou, por meio de nota, que até agora o que se sabe sobre a substância é de que ela não é carreada pela chuva. Há várias possibilidades que estão sendo avaliadas, como por exemplo, a perfuração de poço nas proximidades, descarte de limpa fossa e lançamento de produto químico das empresas próximas ou trazido de outros locais. O Ipaam afirmou ainda que deve continuar o processo de investigação com a ajuda da comunidade.
O órgão disse que vem monitorando a área desde o dia 8 de maio, quando recebeu a denúncia sobre a coloração alterada do igarapé em questão. Entretanto, apesar das várias vistorias no local, ainda não foi possível identificar a fonte poluidora.
Em outubro de 2013, o igarapé São Francisco, localizado na Zona Sul de Manaus, também apresentou tingimento cor de rosa. Apesar de diversas vistorias do Ipaam na época, a origem da coloração não foi identificada. O curso d’água foi alvo de denúncias por parte de moradores do bairro, que reclamaram do forte odor proveniente do igarapé.
Fonte: G1